O Brasil é um mercado dinâmico e cheio de oportunidades, mas também apresenta desafios únicos para empresas austríacas que buscam crescer de forma inovadora. Como equilibrar eficiência operacional com a necessidade de adaptação local? Quando a inovação disruptiva é realmente necessária? E como transformar incertezas em vantagem competitiva?
Nesta entrevista exclusiva, Daniel Egger — austríaco, intraempreendedor em série e fundador da Escola Amarela, uma plataforma de educação B2B para profissionais de inovação — compartilha insights valiosos baseados em seus 20 anos de experiência internacional, incluindo 15 anos atuando no Brasil.
Em conversa com Stefan Nemetz, Vice-Cônsul da Áustria no Brasil, Egger desmistifica a ideia de que toda estratégia de crescimento exige inovação radical e explica como empresas podem adotar um método estruturado de refinamento para reduzir riscos e aumentar as chances de sucesso. Confira a entrevista abaixo:
Stefan Nemetz: Muitos executivos austríacos no Brasil se perguntam se toda iniciativa de crescimento realmente exige inovação. O que sua experiência mostra sobre isso?
Daniel Egger: Essa é uma ótima provocação, Stefan, porque há um mito comum: que toda estratégia precisa de uma abordagem disruptiva. É verdade? Você não precisa de pensamento inovador para tudo. Mas em cerca de um terço das iniciativas de crescimento, sim, a diferença entre sucesso e fracasso está em como a incerteza é tratada, ou seja, se você trabalha o refinamento planejado. O que vemos no mercado brasileiro é que as iniciativas mais críticas são justamente aquelas em que as regras conhecidas não se aplicam: clientes precisam mudar de comportamento, modelos de receita nunca foram testados localmente e tecnologias são inéditas para aquele contexto. É aí que um processo ágil de validação faz toda a diferença.
Stefan Nemetz: Os dados globais também mostram isso: quando empresas tratam incerteza como certeza, o risco de retrabalho ou fracasso aumenta. Como você vê o papel do refinamento nesses cenários, principalmente para subsidiárias austríacas atuando no Brasil?
Daniel Egger: É um comportamento natural, especialmente em multinacionais com tradição industrial. Os processos que funcionam bem no “verde” (operações core) premiam eficiência, planejamento e execução. O problema surge quando se tenta usar o mesmo playbook para o “amarelo” (complexo) e o “vermelho” (inovação pura). Nessas áreas, a incerteza é estrutural. Ignorar isso, tratando incerteza como certeza, quase sempre leva a retrabalho, desperdício de recursos e até erosão de reputação da marca local.
Stefan Nemetz: No ambiente brasileiro, o investimento privado em P&D ainda é relativamente baixo, mesmo com incentivos. Como as subsidiárias austríacas podem equilibrar a busca por eficiência com a necessidade de adaptação local?
Daniel Egger: O ambiente de negócios no Brasil é altamente dinâmico, e a pressão por eficiência muitas vezes faz com que empresas pulem etapas de validação para economizar tempo ou orçamento. Mas o paradoxo é que, ao investir algumas semanas em refinamento, geralmente economiza-se meses — ou até anos — de ajustes pós-lançamento. Um dado interessante é que, segundo o próprio Ministério da Economia (MDIC), iniciativas que passaram por ciclos de teste e refinamento tiveram índices de sucesso duas vezes maiores, mesmo em setores tradicionais.
Stefan Nemetz: Recentemente, temos visto iniciativas como hackathons e laboratórios de inovação se espalharem no país. Como iniciativas pontuais como essas podem se transformar em resultados consistentes?
Daniel Egger: Esses eventos são excelentes para gerar ideias e engajamento, mas, sem um processo posterior de refinamento, muitas soluções acabam não saindo do papel. O segredo é dar continuidade: transformar ideias promissoras em protótipos testados rapidamente, envolvendo clientes reais ou parceiros locais. Esse processo não precisa ser caro ou demorado mas, requer disciplina, transparência e vontade de aprender com o erro.
Stefan Nemetz: Do ponto de vista prático, como times de uma subsidiária podem começar a incorporar esse olhar mais crítico e estruturado sobre inovação?
Daniel Egger: Minha sugestão é começar pequeno: escolha um projeto ou iniciativa que envolva um grau maior de incerteza — seja por tecnologia nova, cliente diferente ou modelo de negócio inovador. Estruture ciclos curtos de teste, registre aprendizados e compartilhe os resultados internamente. Ferramentas digitais e cursos online podem ajudar a organizar o processo, mas o mais importante é criar espaço para que as perguntas certas sejam feitas antes dos grandes investimentos.
Stefan Nemetz: Para encerrar, qual reflexão você deixa aos executivos austríacos que buscam alinhar rigor operacional com inovação no Brasil?
Daniel Egger: O maior diferencial não está em tentar inovar sempre, mas em saber exatamente quando e como inovar. Isso significa ser honesto sobre o grau de incerteza, investir tempo em entender o contexto local e aceitar que refinamento não é um custo, mas um investimento em segurança e performance. Em tempos de pressão por resultados, liderar com perguntas certas e disposição para ajustar o rumo pode ser a chave para diferenciação e sucesso sustentável.

Stefan Nemetz: E onde entra o papel da Escola Amarela nesse cenário? Por que não basta fazer “como sempre foi feito”?
Daniel Egger: O diferencial da Escola Amarela está justamente em estruturar o refinamento: transformar dúvidas em aprendizados rápidos e decisões baseadas em testes reais, não em achismos ou benchmarking estrangeiro. O nosso método combina ferramentas consagradas com a realidade brasileira. Oferecemos cursos online focado na prática, com templates, checklists, prompts para IA e tudo que as equipes precisam para implementar ideias mais rapidamente e com menos risco.
Stefan Nemetz: Qual a sua recomendação final para os executivos austríacos que querem transformar incerteza em vantagem competitiva aqui no Brasil?
Daniel Egger: Meu conselho: pare de tratar incerteza como certeza. Olhe para suas iniciativas e pergunte: onde é necessária mudança de comportamento do cliente, novo modelo de receita, tecnologia inédita? Ali, refine antes de investir. Aproveite a vantagem do método — valide em semanas e evite fracassos. E conte com a Escola Amarela para estruturar esse processo.